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literatura

Alencar

José Martiniano de Alencar (1829-1877) foi um escritor e político brasileiro. É notável como escritor por ter sido o fundador do romance de temática nacional, e por ser o patrono da cadeira fundada por Machado de Assis na Academia Brasileira de Letras.

Na carreira política, foi notória a sua tenaz defesa da escravidão no Brasil quando ministro da Justiça do segundo reinado. Era neto de Bárbara de Alencar, uma heroína da Revolução Pernambucana.

No que se refere aos seus romances indianistas (O Guarani, Iracema e Ubirajara), Alencar investe na afirmação da identidade nacional e, para isso, valoriza nossos traços autóctones. O índio – homem da terra brasileira em estado puro – ocupa na obra de José de Alencar o papel de herói, tornando-se símbolo de nossa raça, do bom selvagem brasileiro. Nesses romances, o cenário é a natureza de nosso país, cuja representação é repleta de poeticidade e serve como pano de fundo para um enredo que gira em torno do amor e da aventura.

Chateaubriand

François-René Auguste de Chateaubriand (1768-1848), também conhecido como visconde de Chateaubriand, foi um escritor, ensaísta, diplomata e político francês que se imortalizou pela sua magnífica obra literária de caráter pré-romântico. Pela força da sua imaginação e o brilho do seu estilo, que uniu a eloquência ao colorido das descrições, Chateaubriand exerceu uma profunda influência na literatura romântica de raiz europeia, incluindo a lusófona.

Iracema

Iracema constitui-se em uma das mais conhecidas obras de José de Alencar. Publicada em 1865, seu título é um anagrama de “América”, e seu subtítulo “lenda do Ceará” aponta-nos, conforme sugere a leitura do romance, para uma alegoria da colonização do Ceará e, em termos mais abrangentes, para a própria colonização do Brasil. Simboliza, por meio de suas personagens, a fusão do velho mundo (a Europa) com o mundo selvagem (o indígena), apresentando o romance, como resultado, um novo mundo (a América).

Narrado em terceira pessoa, por um narrador onisciente, o romance ambienta-se no Brasil de 1600, já com a presença dos colonizadores franceses, holandeses e portugueses, que lutam pela conquista do novo território. Centrado na história de Iracema, uma índia tabajara, que se apaixona por Martim, o colonizador europeu, esse poema em prosa – como é por muitos considerado, em razão das inúmeras metáforas tiradas da natureza – conta-nos, além da triste história “da virgem dos lábios de mel” e de seu amado, a fundação do estado do Ceará e do ódio entre as nações tabajara e pitiguara, as quais eram aliadas dos franceses e dos portugueses, respectivamente.

Peri

Peri – personagem no romance de José de Alencar, O Guarani – é índio Goitacá, filho de Arerê, e herói que se dedica inteiramente a sua amada, Cecília, idolatrando-a como sua senhora. Seu amor por Cecília tem tons de sagrado e ele a vê como uma imagem de Nossa senhora.

Alencar, José - O Guarani (1857).

(II. Peri, ii. Iara!)

O índio terminou aqui a sua narração.

      Enquanto falava, um assomo de orgulho selvagem da força e da coragem lhe brilhava nos olhos negros, e dava certa nobreza ao seu gesto. Embora ignorante, filho das florestas, era um rei; tinha a realeza da força.

 

homem natural como o sonhava Rousseau

Segundo as ideias do pensador iluminista e pré-romântico Jean Jacques Rousseau, o homem originalmente é puro, mas é corrompido ao entrar em contato com a civilização. Portanto, Rousseau via no homem primitivo o modelo de ser humano.

No Brasil, essas ideias encontraram plena aceitação entre os artistas e o público, já que nosso índio podia ser identificado como o bom selvagem de Rousseau; por não contarmos com a riquíssima matéria aventuresca medieval do romantismo europeu: o cavaleiro medieval representava a figura do herói romântico, justo fiel, corajoso, forte e ético.

A definição da natureza humana é um equilíbrio perfeito entre o que se quer e o que se tem. O homem natural é um ser de sensações, somente. O homem no estado de natureza deseja somente aquilo que o rodeia, porque ele não pensa e, portanto, é desprovido da imaginação necessária para desenvolver um desejo que ele não percebe. Estas são as únicas coisas que ele poderia “representar.”  Então, os desejos do homem no estado de natureza são os desejos de seu corpo. “Seus desejos não passam de suas necessidades físicas, os únicos bens que ele conhece no universo são a alimentação, uma fêmea e o repouso.”

arrancar uma palmeira

No final da obra de José de Alencar, O Guarani, Peri e Cecília  partem  para um  destino desconhecido e são surpreendidos por uma forte tempestade, que se transforma em dilúvio. Abrigados no topo de uma palmeira, Cecília espera a morte chegar, mas Peri conta uma lenda indígena segundo a qual Tamandaré e sua esposa se salvaram de um dilúvio abrigando-se na copa de uma palmeira desprendida da terra e alimentando-se de seus frutos. Ao término da enchente, Tamandaré e esposa descem e povoam a Terra. As águas sobem, Cecília se desespera. Peri, com uma grande força, arranca a palmeira e faz, dela, uma canoa para poderem continuar pelo rio, deixando subentendido que a lenda de Tamandaré se repetiu com Peri e Cecília.

     Tamandaré

Segundo a mitologia dos índios tupis que habitavam a costa brasileira no século XVI, Tamandaré era um pajé que fez uma fonte que inundou o mundo. Ele se abrigou no alto de uma palmeira com sua mulher. Após a água baixar, o casal teria dado origem aos índios tupinambás.

Alencar, José - O Guarani (1857).

(IV. A Catástrofe, xi. Epílogo)

    Então passou-se sobre esse vasto deserto de água e céu uma cena estupenda, heroica, sobre-humana; um espetáculo grandioso, uma sublime loucura.

    Peri alucinado suspendeu-se aos cipós que se entrelaçavam pelos ramos das árvores já cobertas de água, e com esforço desesperado cingindo o tronco da palmeira nos seus braços hirtos, abalou-o até as raízes.

    Três vezes os seus músculos de aço, estorcendo-se, inclinaram a haste robusta; e três vezes o seu corpo vergou, cedendo a retração violenta da árvore, que voltava ao lugar que a natureza lhe havia marcado.

    Luta terrível, espantosa, louca, esvairada; luta da vida contra a matéria; luta do homem contra a terra; luta da força contra a imobilidade.

Houve um momento de respouso em que o homem, concentrando todo o seu poder, estorceu-se de novo contra a árvore; o ímpeto foi terrível; e pareceu que o corpo ia despedaçar-se nessa distensão horrível.

  Ambos, árvore e homem, embalançaram-se no seio das águas: a haste oscilou; as raízes desprenderam-se da terra já minada profundamente pela torrente.

   A cúpula da palmeira, embalançando-se graciosamente, resvalou pela flor da água como um ninho de garças ou alguma ilha flutuante, formada pelas vegetações aquáticas.

Peri estava de novo sentado junto de sua senhora quase inanimada; e, tomando-a nos braços, disse-lhe com um acento de ventura suprema:

     – Tu viverás!...

Ceci

Ceci – personagem no romance de José de Alencar, O Guarani – é filha do fidalgo português Dom Antônio de Mariz; uma moça linda, loira e de olhos azuis. Meiga e suave, é a perfeita heroína do Romantismo.

    

Alencar, José - O Guarani (1857).

(IV. A Catástrofe, xi. Epílogo)

   Um longo suspiro elevou o seio de Cecília; seus lindos olhos azuis se abriram e cerraram, deslumbrados pela claridade do dia; ela passou a mão delicada pelas pálpebras rosadas, como para afugentar o sono, e seu olhar límpido e suave foi pousar no rosto de Peri. Soltou um gritozinho de prazer, e, sentando-se com vivacidade, lançou um olhar de surpresa e admiração em torno da espécie de pavilhão de folhagem que a cercava; parecia interrogar as árvores, o rio, o céu; mas tudo emudecia.

Dom Antônio de Mariz

Dom Antônio de Mariz (1536-1584) foi um fidalgo português e um dos fundadores da cidade do Rio de Janeiro, em 1565, acompanhando Estácio de Sá.

José de Alencar imortalizou a figura de Dom Antônio de Mariz no romance O Guarani, que foi publicado em folhetim em 1857 no Correio Mercantil. Alencar romanceou a vida de Dom Antônio e inventou-lhe uma filha de nome Cecília, ou Ceci, importante personagem para o desenrolar da trama. Ele havia decidido permanecer no Brasil após derrotas portuguesas sofridas no Marrocos. Assim, ele fixa-se no Rio de Janeiro em terras que foram oferecidas por Mem de Sá como retribuição a serviços prestados à Coroa.

Alencar, José - O Guarani (1857).

(I. Os Aventureiros, ii. Lealdade)

     Tomou os seus penates, o seu brasão, as suas armas, a sua família, e foi estabelecer-se naquela sesmaria que lhe concedera Mem de Sá. Aí, de pé sobre a eminência em que ia assentar o seu novo solar, D. Antônio de Mariz, erguendo o vulto direito, e lançando um olhar sobranceiro pelos vastos horizontes que abriam em torno, exclamou:

    – Aqui sou português! Aqui pode respirar à vontade um coração leal, que nunca desmentiu a fé do juramento. Nesta terra que me foi dada pelo meu rei, e conquistada pelo meu braço, nesta terra livre, tu reinarás, Portugal, como viverás n’alma de teus filhos. Eu o juro!

filho de Areré

Peri é índio Goitacá, filho de Arerê.

Alencar, José - O Guarani (1857).

(II. Peri, ii. Iara!)

     Por fim dom Antônio passando o braço esquerdo pela cintura de sua filha, caminhou para o selvagem e estendeu-lhe a mão com gesto nobre e afável; o índio curvou-se e beijou a mão do fidalgo.

– De que nação és? perguntou-lhe o cavalheiro em guarani.

– Goitacá, respondeu o selvagem erguendo a cabeça com altivez.

– Como te chamas?

– Peri, filho de Ararê, primeiro de sua tribo.

      – Eu, sou um fidalgo português, um branco inimigo de tua raça, conquistador de tua terra; mas tu salvaste minha filha; ofereço-te a minha amizade.

– Peri aceita; tu já eras amigo.

– Como assim? perguntou dom Antônio admirado.

Atala

Atala, ou os Amores de dois selvagens no deserto é uma novela escrita por François-René de Chateaubriand, publicada pela primeira vez em 1801. A obra inspirada por suas viagens pela América do Norte, teve um enorme impacto sobre o início do Romantismo, e passou por cinco edições em seu primeiro ano. Foi adaptada com frequência para o palco, e traduzida em várias línguas.

De acordo com o próprio Chateaubriand, “Atala foi escrita no deserto, sob as cabanas dos selvagens. Não sei se o público vai gostar da história, que abandona todas as trilhas batidas e representa uma natureza e costumes totalmente estranhos à Europa. Não há aventura em Atala. É uma espécie de poema, meio descritivo, meio dramático. Isto consiste inteiramente no retrato de dois amantes caminhando e conversando na solidão, e no quadro das provações do amor em meio à calmaria do deserto.”

Atala é mestiça, filha biológica do espanhol Lopez com uma índia americana nativa. Em consequência de uma gravidez complicada, sua mãe promete à Rainha dos Anjos que, caso a filha nasça, ela (Atala) deve confinar-se a uma vida de castidade. Ao nascer, Atala é adotada por Simahan, Sachem (líder) das tribos nativas americanas Muscogee e Seminole. Antes de morrer, a mãe relembra Atala da promessa e certifica que, caso ela não a cumpra, Atala irá “mergulhar a alma da sua mãe em torturas eternas.” Atala apaixona-se por Chactas, um índio americano nativo Natchez, e vê no suicídio, a única forma de cumprir a promessa da mãe.

Não lembra a mãe de um certo Bento que na velhice vira (Dom) casmurro? Tendo perdido seu primeiro filho na gravidez, Bento já nasce fadado a vida clerical por conta de uma promessa de sua mãe caso ela não perca seu segundo filho.

 

homérico (c1543) ETIMOLOGIA grego homérikós,ê,on ‘de Homero’, pelo latim homerìcus,a,um. Veja deuses de Homero.

1 adj. relativo a Homero, poeta épico que teria vivido na Grécia no sVI a.C., presumível autor da Ilíada e da Odisseia, ou a seu estilo

2 adj. p.ext. fig. que tem o caráter extraordinário, fantástico, desmedido das cenas épicas presumivelmente descritas por Homero

3 p.ext. fig. grandioso, enorme, extraordinário

 

indianismo (1922)

1 s.m. LITERATURA tendência do período literário conhecido como Romantismo, que viu no índio americano o herói dos novos tempos, o bom selvagem, e a sua cultura, estreitamente ligada à natureza, como ideal, por oposição à chamada ‘barbárie da civilização’

2 s.m. LITERATURA no Romantismo brasileiro, a valorização do índio como um elemento diferenciador da identidade nacional e, do seu passado, como o substitutivo de um período histórico legendário que o país não teve

3 s.m. LITERATURA a temática ou a referência ao índio brasileiro, a sua cultura, a sua língua etc., encontradas em algumas obras da literatura brasileira num período que compreende o sXVI, com Anchieta, até o sXX, com os modernistas

 

frades de Garrett

João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett (1799-1854) foi um escritor e dramaturgo romântico, orador, par do reino, ministro e secretário de estado honorário português.

Grande impulsionador do teatro em Portugal, uma das maiores figuras do romantismo português, foi ele quem propôs a edificação do Teatro Nacional de D. Maria II e a criação do Conservatório de Arte Dramática.

Os frades são personagens importantes na obra de Garrett. Ele mesmo o afirma, e o prova, no seu livro Viagens na Minha Terra, obra na qual se misturam o estilo digressivo da viagem real (que o autor fez de Lisboa a Santarém) e a narração novelesca em torno de Carlos e Joaninha.

Garrett, Almeida - Viagens na Minha Terra (1846).

(Capítulo XIII, pp. 129-131)

     Já me disseram que eu tinha o genio frade, que não podia fazer conto, drama, romance sem lhe metter o meu fradinho.

     O ‘Camões’ tem um frade, Frei José Indio;

     A ‘Dona Branca’ tres, Frei Soeiro, Frei Lopo e San’-Frei Gil – faz quatro;

     A ‘Adosinda’ tem um ermitão, espécie de frade – cinco;

   ‘Gil-Vicente’ tem outro – isto é, verdadeiramente não tem senão meio frade, que é André de Rezende, de mais a mais, pessoa muda – cinco e meio;

    O ‘Alfageme’ tres quartos de frade, Froilão-Dias, chibato da Ordem de Malta – seis frades e um quarto;

     Em ‘Frei Luiz de Sousa’ tudo são frades: vale bem n’esta computação, os seus tres, quatro, meia dúzia de frades – são já dôze e quarto;

     Alguns, não eu, querem metter n’esta conta o ‘Arco-de-Sanct’Anna’, em que ha bem dous frades e um leigo: E aqui tenho eu ás costas nada menos de quinze frades e quarto.

     Com este Frei Diniz é um convento ínteiro.

   Pois, senhores, não sei que lhes faça: a culpa não é minha. Desde mil cento e tantos que começou Portugal, até mil oitocentos e trinta e tantos que uns dizem que elle se restaurou, outros que o levou a breca, não sei que se passasse ou podesse passar n’esta terra coisa alguma pública ou particular, em que o frade não entrasse.

 

Ubirajara

Ubirajara é o personagem protagonista e herói da obra de José de Alencar Ubirajara: Lenda Tupy, publicada em 1874. Aparece nos capítulos iniciais com o nome de Jaguarê, guerreiro da tribo dos Araguaias, antes de se tornar Ubirajara, o senhor da lança, e chefe de sua tribo, em substituição ao pai, depois de ter vencido Pojucã. Quando vai servir Itaquê para obter como esposa Araci, o nome adotado por ele entre os Tocantins é Jurandir.

Alencar, José - Ubirajara (1874).

(I. Caçador)

Pela margem do grande rio caminha Jaguaré, o joven caçador.

O arco pende-lhe ao hombro, esquecido e inutil. As flechas dormem no coldre da uiraçaba.

Os veados saltam das moitas de ubaia e vem retouçar na gramma, zombando do caçador.

      Jaguaré não vê o timido campeiro, seus olhos buscam um inimigo capaz de resistir-lhe ao bra-ço robusto.

     O rugido do jaguar abala a floresta; mas o caçador também despreza o jaguar, que já cançou de vencer.

     Elle chama-se Jaguaré, o mais feroz jaguar da floresta; os outros fogem espavoridos quando de longe o pressentem.

    Não é esse o inimigo que procura, porém outro mais terrível para vencê-lo em combate de morte e ganhar nome de guerra.

Jaguaré chegou á idade em que o mancebo troca a fama do caçador pela gloria do guerreiro.

* * * * *

     Quando o corpo robusto de Pojucan tombava, cravado pelo dardo, Jaguaré d’um salto calcou a mão direita sobre o hombro esquerdo do vencido, e brandindo a arma sangrenta, soltou o grito do triumpho:

    — Eu sou Ubirajara, o senhor da lança, o guerreiro invencivel que tem por arma a serpente. Reconhece o teu vencedor, Pojucan, e proclama o primeiro dos guerreiros pois te venceu a ti, o maior guerreiro que existiu antes d’elle.

 

I-Juca-Pirama

I-Juca-Pirama é um poema Indianista brasileiro escrito pelo poeta Gonçalves Dias. Publicado em 1851 nos Últimos Cantos, está escrito em versos pentassilábicos, decassilábicos e endecassilábicos, e dividido em dez cantos. É um dos mais famosos poemas Indianistas do Romantismo Brasileiro. Considerado por muitos a obra-prima do poeta maranhense, o poema possui 484 versos.

O poema relata a história de um guerreiro tupi sobrevivente e fugitivo da destruição na costa que cai aprisionado por uma tribo antropófaga dos Timbiras e que deve ser sacrificado conforme o rito. Antes dos sacrifícios o chefe Timbira propõe que aquele que vai ser morto (i-îuká-Pyr-ama em Tupi) deve cantar as suas façanhas para que os bravos Timbiras tenham maior gosto em sacrificá-lo; e assim inicia o seu canto:

Meu canto de morte,

guerreiros, ouvi:

Sou filho das selvas,

nas selvas cresci,

Guerreiros, descendo

Da tribo Tupi. (112-117)

 

O mobiliário cerebral de Jeca

‘O banquinho de três pés, as cuias, o gancho de toucinho, as gamelas, tudo se reedita dentro de seus miolos sob a forma de ideias.’ Todos esses pequenos detalhes são um reflexo de nossa personalidade, de como nós nos vemos, nossa família e o que talvez tenha mudado ao longo dos anos.

Em seu livro, Snoop, o professor de psicologia da Universidade do Texas, Sam Gosling, explora como mostramos nossa personalidade de maneiras inesperadas e não planejadas em nossos espaços privados:

Cozinha Caipira - Almeida Júnior.jpg

Cozinha Caipira, pintura de Almeida Júnior (1895)

“Essencialmente, o que sua casa faz é destilar uma longa história de comportamentos e escolhas. Se você conhece alguém por um curto período de tempo, você tem apenas uma pequena amostra do seu comportamento. Mas os itens em sua casa refletem comportamentos e escolhas persistentes e repetidas (deliberada ou subconscientemente), realizadas esporadicamente. Isso os torna uma maneira muito confiável de coletar informações sobre essa pessoa.”

 

Mark Twain

Samuel Langhorne Clemens (1835-1910), mais conhecido pelo pseudônimo Mark Twain, foi um escritor e humorista estadunidense crítico do racismo. É mais conhecido pelos romances The Adventures of Tom Sawyer (1876) e sua sequência Adventures of Huckleberry Finn (1885), este último frequentemente chamado de “O Maior Romance Americano”.

Ele obteve grande êxito como escritor e palestrante. Seu raciocínio perspicaz e suas sátiras incisivas renderam-lhe a admiração de seus pares e o enaltecimento dos críticos, e Twain manteve boas relações com presidentes, artistas, industriais e a realeza europeia. Ele foi laureado como o “maior humorista americano de sua época”, sendo definido por William Faulkner como o “pai da literatura americana”.

Nascido durante uma das passagens do Cometa Halley, Twain morreu 74 anos depois, pouco depois do astro voltar a se aproximar da Terra. “Será a maior decepção da minha vida se eu não for embora com o cometa”, escrevera ele em 1909. “O Todo-Poderoso disse, indubitavelmente: ‘cá estão esses dois inexplicáveis fenômenos; eles chegaram juntos, e devem partir juntos’”.

 

Serena

Aos domingos [o caboclo] vai à vila bifurcado na magreza ventruda da [égua] Serena.”

 

Brinquinho

“Fecha o cortejo o indefectível [cão] Brinquinho, a resfolgar com um palmo de língua de fora.”

 

Itaoca

Povoado ficcional que também aparece em outros contos de Monteiro Lobato. Em Um Suplício Moderno (1916), Itaoca não passava “de mesquinho lugarejo empoleirado no espinhaço da serra e desprovido de tudo.”

itaoca (a1958) ETIMOLOGIA tupi i'ta ‘pedra’ + 'oka ‘casa’ >

s.f. furna, lapa, caverna

Larousse

Grand dictionnaire universel du XIXe siècle (Grande  Dicionário  Universal  do  Século XIX), muitas vezes chamado de Grand Larousse du dix-neuvième, é um dicionário enciclopédico francês. Foi planejado, dirigido, editado e substancialmente escrito por Pierre Larousse. A publicação do Grand dictionnaire universel em 15 volumes com 1500 páginas estendeu-se de 1866 a 1876. Dois suplementos foram publicados em 1878 e 1890.

deuses de Homero

Homero foi um poeta épico da Grécia Antiga, ao qual, tradicionalmente, se atribui a autoria dos poemas épicos Ilíada e Odisseia. De acordo com o filologista alemão Walter F. Otto, os deuses de Homero são imortais, eternos, belos e altos. Eles residem em éter, a quinta-essência, mas estão presentes no mundo natural. A presença de Poseidon, Hefesto e Dionísio é limitada nos épicos, porque os deuses de Homero são entidades sublimes que manifestam seu espírito particular na totalidade do mundo; eles não estão vinculados a elementos, nem representam virtudes ou funções individuais. Eles unificam espírito e natureza, o que se reflete nas esculturas gregas. Sua conexão com o mundo natural também explica sua forma humana, pois os humanos são as formas naturais mais elevadas. (Fonte: Die Götter Griechenlands. Das Bild des Göttlichen im Spiegel des griechischen Geistes, trad. lit. Os Deuses da Grécia: A Imagem do Divino no Espelho do Espírito Grego, Walter F. Otto, 1929, pp. 127-166.) Veja homérico.

 

quinta-essência (1619) s.f. FILOSOFIA em Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.), o elemento etéreo que com-põe as esferas celestes, distinto em sua quase imaterialidade das quatro propriedades naturais (terra, água, fogo e ar) que constituem os corpos densos no mundo sublunar; éter

 

homérico (c1543) ETIMOLOGIA grego homérikós,ê,on ‘de Homero’, pelo latim homerìcus,a,um. Veja deuses de Homero.

1 adj. relativo a Homero, poeta épico que teria vivido na Grécia no sVI a.C., presumível autor da Ilíada e da Odisseia, ou a seu estilo

2 adj. p.ext. fig. que tem o caráter extraordinário, fantástico, desmedido das cenas épicas presumivelmente descritas por Homero

3 p.ext. fig. grandioso, enorme, extraordinário

 

Eusébio Macário

Eusébio Macário é o título de uma novela de Camilo Castelo Branco, escrita em 1879. Trata-se de uma obra em que Camilo parodia as novas correntes literárias do Realismo e, especialmente, da sua variante, o Naturalismo.

A novela desenrola-se, como acontece em muitas novelas deste autor, no norte de Portugal, na localidade de Basto no período histórico de 1822 (Constituição Progressista – os homens alfabetizados poderiam votar). Eusébio Macário – personagem que dá título à novela – é boticário (farmacêutico), viúvo, e tem dois filhos chamados José Fístula e Custódia. Ambos os filhos têm uma hereditariedade sensual e estróina. E, por vezes, fica numa negociação entre a racionalidade do dinheiro e a irracionalidade do desejo. Eusébio é amigo do padre Justino que vive com a amante, Felícia. Esta tem um irmão, um brasileiro (na novela camiliana um brasileiro é um português que emigrou para o Brasil e voltou a Portugal, regra geral com fortuna) chamado Bento, que é comendador. Bento interessa-se por Custódia, filha de Eusébio. Ela casa-se com o comendador Bento por interesse no dinheiro. Estando casados vão viver para o Porto. A irmã de Bento, Felícia, abandona o Padre e vai acompanhá-los. O Padre Justino, desconsolado, torna-se amante de uma modista, Eufémia. Felícia acaba por se casar com o José Fístula (filho de Eusébio, irmão de Custódia). A moral, neste livro, ocupa o lugar do fingimento.

 

Bertoldo

Lobato se refere ao romance do escritor italiano Giulio Cesare Croce (1550-1609), Le sottilissime astutie di Bertoldo (As astúcias sutilíssimas de Bertoldo) de 1606, que reúne inúmeras peripécias de um personagem popular.

 

est modus in rebus

De acordo com Sátira e Retórica, José Rodrigues Seabra Filho, “de Horácio dois são os livros de sátiras, intitulados sermones (conversações): o I publicado em aproximadamente 35 a. C., o II em 30 ou 29. As 18 sátiras horacianas são do tipo conversações literário-filosóficas e contemplam assuntos diversos, conforme a regra do gênero satírico.” O assunto do primeiro livro (I, 1) é “sobre os que estão descontentes com sua sorte e invejam a sorte de outrem; . . . não há limites para as riquezas, para a posse de bens; sempre difícil se apresenta a situação do avarento; nem convém ser avaro nem dissipador; há um meio termo (I, 1, 106-107):

est modus in rebus, sunt certi denique fines,

quos ultra citraque nequit consistere rectum

[há um meio termo nas coisas, são determinados afinal os limites

além e aquém dos quais não se pode achar o que é correto].

Note-se aí que a ideia do correto (rectum) é a do bem moral, que só pode consistir num justo meio termo, numa justa medida, o modus. Equilíbrio de vida, entre evitar a exuberância e fugir da carência, em enfim não reclamar de sua sorte nem desejar a de outrem. Logo na primeira sátira, um tema recorrente em Horácio, uma visão de mundo que com maior ou menor evidência vai perpassar por outras peças, vai dar o tom da moral horaciana.”

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