jeca tatu
jeca (1918)
1 s.2g. m.q. jeca-tatu
2 adj.2g. que habita o meio rural; caipira
3 adj.2g. que revela mau gosto, falta de refinamento; cafona, ridículo
jeca-tatu (1918) ETIMOLOGIA nome do personagem do conto Urupês (1918), de Monteiro Lobato (1882-1948, escritor brasileiro) tornado substantivo comum
s.m. habitante do interior brasileiro, especialmente da região Centro-Sul, de hábitos rudimentares, morador da zona rural; jeca, caipira, matuto
Primeira página do livro
Jéca Tatuzinho de 1924.

tatu (1560) ETIMOLOGIA tupi ta'tu ‘mamífero dasipodídeo’. Segundo Clóvis Chiaradia, Dicionário de Palavras Brasileiras de Origem Indígena, ta ‘casca, couraça’ + tu ‘encorpado, denso’
s.m. MASTOZOOLOGIA designação comum aos mamíferos xenartros da família dos dasipodídeos, terrestres e onívoros, encontrados do Sul dos E.U.A. à Argentina, de corpo protegido por uma forte carapaça, formada por placas que se conectam através da pele grossa e córnea
Extrato da entrevista concedida a Silveira Peixoto da Gazeta-Magazine no final dos anos 1930.
Metido num pijama de fundo claro e listas escuras, e tendo por sobre o pijama uma capa de gabardine cor de chumbo, Monteiro Lobato está medindo a passos vagarosos o tapete da sala. Resfriadíssimo, de quando em vez um acesso de tosse o caceteia.
– Como nasceu o Jeca Tatu, Lobato? – pergunto-lhe, enquanto dona Maria Pureza Monteiro Lobato ralha com Rodrigo, que insiste em abrir o piano.
– Na Fazenda do Paraíso...
Encomprida um tanto a reticência, como para recordar melhor umas coisas que se foram, uns quadros que lhe ficaram na retentiva. Prossegue, depois:
– É preciso dizer que a Fazenda do Paraíso era de meu pai. Ficava um pouco além de Tremem-bé – o Tremembé da Central do Brasil –, no lugar onde foi a Trapa...
– Sei. Onde é hoje a Fazenda Maristela.
– Isso mesmo. Ali, um dia, conheci nhá Gertrudes Reboque...
– Uma velhinha que morava num rancho à beira da estrada... – aparteia dona Ester de Morais, viúva de Heitor Morais, irmã de Lobato, e que parecia nem estar prestando atenção à nossa conversa, tão absorta se achava no seu tricô.
– Pois a nhá Gertrudes – continua o escritor – vivia falando num neto que significava para ela o maior homem do mundo. Votava-lhe admiração incondicional. O Jeca – assim se chamava o menino portento – era um colosso aos seus olhos de avó. E de tanto falar no Jeca nós quisemos conhecê-lo. Devia ser alguma coisa de extraordinário, o tal neto de nhá Gertrudes. E pedimos-lhe que aparecesse com o Jeca na casa da fazenda.
– E o Jeca apareceu? – Apareceu. Que decepção! Um bichinho feio, magruço, barrigudo, arisco, desconfiado, sem jeito de gente. Algo horrível, Peixoto. Por isso mesmo, o seu nome ficou na minha cabeça. Anos mais tarde, precisando dar nome a um personagem caboclo, logo me veio à tona a figura desajeitada do Jeca – o mais jeca de todos os jecas que tenho visto.
– E o sobrenome? O Tatu?
– A princípio eu lhe havia dado outro sobrenome. Cha-mei-lhe Jeca Peroba. Não soou bem. Mas lembrei-me de que poucos minutos antes um capataz da fazenda – o Chico – me falara nuns tatus que andavam estragando uma roça de milho. Adotei o Tatu. Curioso: o Jeca, eu o conhecera de 20 anos; dos tatus só meia hora antes o capataz me havia falado. Dessa mistura, através dos anos, foi que surgiu o Jeca Tatu.
Continua a medir o tapete, a passos vagarosos...
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Revista A Cigarra, 1919, Anno VI, n. 114
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Edição de “Urupês”, intitulada “Jeca Tatú: Vida e Costumes”, (Bahia, 1919)
jecocêntrico
-cêntrico elemento de composição pospositivo, form. de adjetivos conexos com -centrismo
-centrismo elemento de composição, pospositivo, de centr(i/o)- + -ismo, em substantivos abstratos do século XX em diante, de várias áreas científicas, para expressar doutrina, concepção, comportamento etc. norteados pela ideia apresentada no formante inicial (Jeca): jecocentrismo < Jeca + -centrismo >
caboclo (1645) ETIMOLOGIA tupi < kara'ïwa ‘homem branco’ + 'oka ‘casa’ >
1 s.m. indivíduo nascido de índia e branco (ou vice-versa), de pele acobreada e cabelos negros e lisos; curiboca
2 s.m. qualquer mestiço de índio; tapuio
3 s.m. indivíduo (esp. habitante do sertão) com ascendência de índio e branco e com os modos desconfiados; caipira, roceiro, matuto
4 s.m. RELIGIÃO nas religiões ou seitas afro-brasileiras, designação genérica dos espíritos de ancestrais indígenas brasileiros que supostamente surgem nas cerimônias rituais e que foram idealizados, já no sXX, segundo os modelos de orixás da teogonia jeje-nagô e do Indianismo literário da fase romântica
caboclismo (1817) ETIMOLOGIA caboclo + -ismo
1 s.m. modo de sentir, agir, falar característicos dos caboclos
2 s.m. apoio aos direitos e/ou interesses dos caboclos
piraquara (1899) ETIMOLOGIA tupi pira'kwara ‘buraco de peixe, pesqueiro,’ formado do tupi pi'ra ‘peixe’ + 'kwara ‘buraco, toca’, adaptado também ao português piracuara
1 s.2g. FIGURADO pessoa que vive no campo ou na roça; caipira, capiau
2 s.2g. nome que se dá às populações ribeirinhas do rio Paraíba do Sul
pesqueiro (1720) s.m. lugar onde os peixes se abrigam, comem ou vivem