urupê
Extrato da entrevista concedida a Silveira Peixoto da Gazeta-Magazine no final dos anos 1930.
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– O livro mais interessante que eu poderia fazer seria a história de meus contos... – diz Lobato enquanto mordisca uma mãe-benta.
– Por que não o faz?
– Já não me interesso por coisa nenhuma. Meus contos foram quase todos vingancinhas pes-soais, desabafos. Quando eu sentia necessidade de vingar-me de um sujeito qualquer, não sossegava enquanto o não pintasse numa situação ridícula ou trágica, que me fizesse rir.
– Então Urupês nasceu de tais vingancinhas?
– Mais ou menos. Em meio à produção pseudônima, foram vindo esses contos, muitos dos quais também eram desabafos. Publiquei-os em periódicos de maior vulto, como a Revista do Brasil, então dirigida por Plínio Barreto e Pinheiro Júnior. Mas eu não alimentava a intenção de fazer livro. A primeira ideia de reunir aqueles contos em volume foi-me dada pelo Plínio. “Publique!”, disse ele. “Conheço o público. Todos vão gostar... ”
– E você resolveu-se...
– Não foi bem assim. A princípio a ideia me pareceu extravagante. Ri-me. Plínio, entretanto, vol-tou ao assunto, insistiu. Pus-me a parafusar naquilo, e acabei mandando imprimir o livro. Minha inexperiência naquele tempo era tamanha que nem sequer pensei em procurar editor. Editei-me a mim mesmo.
– Onde foi buscar esse nome – “urupês”?
– Recordação da infância. Quando em menino minha mãe me mandava fazer qualquer coisa e eu mostrava corpo mole, ela: “Anda, menino! Parece urupê de pau podre!”. Esse nome “urupê” ficou-me na cabeça. Afinal, um dia, quando precisei classificar a classe do Jeca, ou do homem da roça, o nome que me acudiu foi esse – e acabou denominando-me também o livro.
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